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Pessoas

Mini Biografia

Vítor Guilherme Barrosa Pereira Dias nasceu no Porto, mais propriamente Bonfim, a 23 de Agosto de 1944.

Os seus pais chamavam-se Alípio Soares Pereira Dias e Virgínia Augusto dos Santos Barrosa Pereira Dias.

Começou a trabalhar com 18, mas depois foi para a tropa “era raro aquele que escapava de bater com os osso lá“.
Trabalha na Sementeira Alípio Dias há 46 anos “empresa que foi fundada pelo meu pai, em 1933″.

Dinâmico e com vontade de seguir na vida activa acredita “que a empresa tem perninhas para andar“. Diz que no futuro, a empresa continuará nas mãos da família “já cá está a terceira geração“. Recorda com saudade o tempo em que as ruas estavam cheias de lojas abertas e em que o movimento das ruas eram uma constante “estávamos aqui num pólo comercial muito forte“.

“Começo já a trabalhar”

Depois do sétimo ano da altura eu queria ir para Direito e o meu pai queria que eu fosse para Agronomia. Mas naquela altura, nos anos 60, tínhamos uma coisa que se chamava tropa, que ninguém faltava. Era raro aquele que escapava de bater com os ossos lá. E aquilo eram três anos. No melhor dos casos, dois anos e meio, três anos. Ora, eu pus-me a pensar:

- Ora, aos 18 com mais três são 21 ou 22. Aos 24 é que eu vou começar a minha vida de trabalho? Então, começo já a trabalhar.

Diário de um estagiário

Comecei a trabalhar aos 18 anos. Fui estagiar para uma casa inglesa nossa fornecedora. E depois percorri todos os sectores da empresa, desde as vendas… Tive um livro com o nome dos clientes e um carro. Diz assim o patrão:

- “E agora vais. Vais daqui, vais por ali, vais até ao Algarve. Vais pelo interior do Alentejo, sobes por a parte marítima do Alentejo e, quando acabares esta rota, é que tens direito a chegar ao Porto.”

Tinha eu 18 anos a caminho dos 19. Está-se a ver a dureza da educação de hoje para a dureza da educação daquele tempo. Hoje, se fosse o meu filho, mandava alguém com ele para ir acompanhado e não sei quê. Eu fui sozinho. Devo dizer que em determinada altura disse assim:

- Eu vou pegar no carro e vou virar para o Porto e acabou.

Mas, quando cheguei a Santarém, recebi a primeira encomenda dum cliente muito antigo, Alberto Romão. Quando o homem me deu a encomenda, fui para o hotel e comecei a fazer contas. E eu disse assim:

- Se a viagem custar tanto, esta encomenda paga a viagem toda. Portanto, tudo o que vier daí para cima é lucro.

Deu-me um alento de ir por aí baixo e visitar todos os clientes.

Naquelas terras pequenas, primeiro era difícil, porque a maior parte não havia ruas, não havia GPS’s, não havia nada dessa história. Portanto, uma pessoa andava ali às vezes para trás e para a frente. Passava à porta dum cliente e não sabia que era ali o cliente. Perdia-se um bocado mais tempo. Mas depois também havia outra coisa. Como na altura a televisão estava nos princípios e muita gente não tinha televisão, os jornais e a informação não chegavam com tempo. Quando chegava alguém, que era filho dum sócio duma empresa, o que é que eles queriam? Queriam que a gente lhes transmitisse notícias da cidade daqui e de acolá. Uma encomenda e uma visita a um cliente que poderia demorar meia hora esticava-se para uma hora. O homem queria saber coisas. E a maior parte das vezes até me convidava para almoçar ou para jantar, porque queria qualquer coisa, queria novidades.

Portanto, posso dizer que foi-me gratificante depois quando cheguei e recebi um abraço do meu pai a dizer:

- “A coisa correu bem. Sim senhor, estás de parabéns.”

Isso foi melhor do que uma nota de 500 escudos, alguma prenda ou qualquer coisa desse género. Foi um elogio e foi público. Porque eu defendo que os elogios devem ser dados em público. As repreensões, pelo menos a primeira, devem ser dadas em particular. Se merecerem a segunda, já a coisa pode ser pública, que é para castigar, para a coisa ser um bocadinho mais chocante.

Quando as coisas começaram a vir, não de barco, mas de camião TIR

No tempo do meu pai, a loja era muito mais pequena. Tinha a parte de trás de armazém para a execução de encomendas. Mas o espaço que hoje temos, que vai até ao fundo, era metade. O chão era em cimento. Não havia nada em alumínio enolizado. Era tudo em madeira. As portas eram em madeira, as vitrinas, as montras era tudo em madeira e isso tudo foi feito depois para o alumínio enolizado.

Eu posso dizer que a firma foi crescendo. A firma começou com dois sócios e um empregado e chegámos a ser três sócios e 33 empregados. Entretanto, tínhamos aqui um armazém, era curto. Depois alugámos aqui, logo a seguir à Ferreirinha. Em determinada altura, também chegou a ser um armazém que não nos chegava. Porquê? Começaram as coisas a vir, não em barco, mas em camião TIR. Um camião TIR não podia entrar lá. Portanto, havia o transbordo. O camião TIR chegava e para descarregar a mercadoria era uma tarde. Ele punhas e ali daquele lado em frente à Ferreirinha, descarregava as coisas para um camião mais pequeno, o camião mais pequeno ia lá, descarregava e voltava. Andava aqui a fazer este rolman que efectivamente ficava-nos muito mais caro.

Quando, em 1985, o meu pai faltou, nós vendemos o armazém ao vizinho do lado que era uma fábrica de panelas e não sei quê mais e fomos para Arcozelo.

É onde temos o nosso armazém com 2200 metros quadrados de área coberta. Portanto, quadruplicámos a área. Porquê? Porque este tinha à volta de 900 metros quadrados e tinha 3 metros de altura. O outro ficou com 2200 metros quadrados, mas com 6 metros de altura. E conseguimos, com um empilhador, meter mercadoria naqueles alvéolos dos speedlocks até seis metros de altura. É a vantagem dum camião TIR, entra e passado meia hora, três quartos de hora está a sair pela porta fora, porque está tudo descarregado. E, portanto, fomos para 12 quilómetros de distância, mas arranjámos a possibilidade de termos um serviço muito mais eficiente.

“Hoje a coisa é muito mais simples”

Ali em Vila Nova de Gaia é um armazém só de retém. Portanto, antigamente os recibos, as coisas, tinham que se ir buscar ao armazém a Vila Nova de Gaia, transportá-las para cá em bruto, aqui transformá-las em pacotes de 10 gramas ou 25 gramas e depois daqui reexpedir para o cliente. O tempo que se perdia nestas situações de ir buscar, trazer, descarregar, carregar e tal, despachar. Hoje a coisa é muito mais simples. A encomenda entra aqui. Pelo correio electrónico sai para o armazém de Arcozelo e do armazém de Arcozelo duas empresas, uma dos correios e uma empresa privada, vai todos os dias ao fim da tarde, às 17h, buscar as encomendas para entregar aos clientes. Portanto, ganhamos em rapidez e comodidade e diminuímos até pessoal, porque não é preciso tantos para descarregar e carregar. Foi uma maneira de fugir também à mão-de-obra, que hoje em dia toda a gente anda a despejar pessoas para o fundo de desemprego, precisamente porquê? Porque a máquina e os serviços, computorização, leva a que o trabalho que era feito por dois ou três passe a ser feito só por um.

Foi como no tempo do meu pai. A facturação era à mão, a contabilidade era feita à mão. Tudo feito à mão. Depois, isso já foi há 25 anos ou qualquer coisa desse género, veio uma máquina que já tinha umas fichas. Era uma máquina da National que tinha as fichas dos clientes. Aquilo que era feito à mão, da factura passava para ali e ficava em conta-corrente naquela ficha do cliente. O cliente perguntava quanto é que devia, ia-se levantar essa fichazinha:

- Deve tanto! São tantas facturas.

Mas, durante muitos anos, toda a contabilidade foi feita à mão. Havia o guarda-livros, havia o técnico de contas, tudo isso era feito à mão.

“O trabalho ainda é a melhor fonte de distracção da vida”

Já se viu que hoje em dia as pessoas que se reformam, ficam em casa, metem-se na cama, levantam-se às 10h, depois dali vão para o café e ficam no café sentados a falar com os amigos e não sei que mais, têm tendência a rapidamente estarem no cemitério. Há aqueles que continuam a levantar-se à hora normal, que andam a pé, e que até arranjam uma listinha para fazerem isto ou aquilo. Não precisavam da lista, que têm memória para, mas fazem a lista para demonstrar ao fim do dia que a actividade deles foi grande. Há homens que têm 82 anos e ainda vêm por aqui. Eu acho que o trabalho ainda é a melhor fonte de distracção da vida. Às vezes há domingos que se tornam chatos, porque uma pessoa não tem mais nada que fazer. Ou lê um livro, ou almoça e depois senta-se no sofá e tira uma soneca ou qualquer coisa desse género. Aqui não.

Há obrigatoriedade, almoçar, sair, trabalhar e tal. Isso é muito importante. E se a gente fizer isso com prazer, o que se faz com prazer nada custa. Aquilo que se fizer contrafeitos, aborrecidos é sempre uma coisa muito complicada para ser executada. Fala a experiência de 46 anos de trabalho. Quando uma pessoa faz as coisas com alegria é um prazer, é uma satisfação. Encontramos depois um cliente que já não víamos há muito tempo e eles ficam todos satisfeitos e tal. Isso é melhor do que uns euros no bolso a seguir. Não têm significado perante essa satisfação de ver o cliente.

Vídeos

Rua

“Estávamos aqui num pólo comercial muito forte”

Eu diria que antigamente esta rua seria um grande armazém comercial.

Hoje temos Maxmat’s, os Recheios e essas coisas, antes isso estava tudo mas derivado. Havia a Rua das Flores que era a parte de ourivesaria e a parte de lanifícios. Estava absolutamente definido. Não havia chinesices lá, não havia nada. Mouzinho da Silveira o que é que tinha? Tinha motores e casas de sementes. E por que é que as casas das sementes vieram localizar-se na Rua Mouzinho da Silveira? A história diz-nos porquê. Porque todos os comboios vinham até à estação de São Bento. Portanto, os homens chegavam à estação de São Bento, desciam 50 ou 100 metros e estavam nas casas das sementes a comprar as sementes que queriam para as suas produções. A localização da casa das sementes está motivada por causa disso. Temos também a Rua de São João que era a rua dos homens das mercearias por grosso.

Não é no meu tempo a trabalhar, mas ainda é do meu tempo ver, quando vinha cá visitar os meus pais e o meu tio, os carros de bois carregados de mercearia para levar para a Areosa, para Ermesinde. Até Santo Tirso iam de carros de bois, que saíam daqui às 7h e deviam de chegar lá às 24h ou qualquer coisa nesse género. Tínhamos também o Mercado Ferreira Borges a trabalhar com as frutas. Portanto, esta zona era um entreposto comercial. Estávamos aqui num pólo comercial muito forte onde podiam ir buscar quase tudo aquilo de necessidade que havia para alimentação. De géneros alimentícios tinham aqui tudo. Hoje já não existe.

Áudios

Lugar

Soluções para a cidade

Esta rua precisava de ter gente. A cidade do Porto todos os dias perde população. Matosinhos não era nada, Valongo não era nada, Ermesinde não era nada, Vila Nova de Gaia não era nada. Hoje não se precisa de vir ao Porto para fazer compras. Tem em Vila Nova de Gaia, tem em Matosinhos, tem em Valongo, tem em todo o lado. Passaram a ser não só dormitórios mas a ter comércio. As pessoas foram para lá porque as casas não tinham comodidade, por causa da lei não permitir que se aumentasse às rendas. Portanto, o proprietário da casa não tinha dinheiro para fazer obras na casa e as casas iam-se degradando até que as pessoas começaram a subir um bocadinho o nível de vida e preferem sair do Porto.

Este movimento pendular, de manhã de entrada na cidade do Porto e à noite da saída do Porto, não existia há 30 anos atrás. Eu posso dizer que temos uma casa aqui em Miramar. Há 30 anos 95% da população ia fazer férias a Miramar e 5% é que vivia lá todo o ano. Hoje é precisamente ao contrário. 5% é que vão fazer férias e 95% vivem lá todo o ano. Porquê? Porque hoje os transportes melhoraram substancialmente. Ao fim de 20 minutos, 25 minutos de Miramar está-se no centro da cidade do Porto. Tem-se o seu carro estacionado, tem-se tudo e pode-se fazer as compras e passado 20 minutos está-se em casa.

O que antigamente demoraria uma hora ou qualquer coisa dentro desse género. Portanto, a cidade do Porto perde população.

População e estacionamento

O que é que era preciso fazer? É atrair gente ao centro da cidade do Porto. Jovens casais que não se importavam de pagar uma renda. Seria subsidiada a renda como há. Mas tinham que fazer uma coisa. Hoje toda a gente tem carro.

Uma pessoa ia fazer um jantar a casa duns amigos ou não sei quê. Chegava às duas horas ou à uma hora da manhã. O marido deixava-a aqui em casa e ia deixar o carro lá em baixo, em frente ao Palácio da Bolsa. Vinha para cima era incomodado ou apanhava chuva ou qualquer coisa desse género. O que é que a pessoa quer? Quer uma casa onde tenha por baixo a garagem. Ou entrar logo para casa e estar na garagem ou nestas quatro ou cinco casas haver uma que seria escravizada para servir de parque de estacionamento para os automóveis da população daquelas quatro casas. Portanto, iam jantar, entravam na garagem, andavam 20 metros e estavam em casa. Enquanto não tiver estacionamento, podem construir, fazer andares muito jeitosos, mas a população não quer vir para o centro da cidade.

Podem construir os melhores andares e pô-los a preços convidativos. Mas hoje o português está de tal maneira habituado… Eu tenho clientes que a porta lá em baixo é que é estreita, senão eles metiam o carro dentro da loja para fazer as compras. Estão de tal maneira escravizados ao automóvel que não sabem andar a pé e andar a pé faz bem à saúde.

Policiamento

Um melhor policiamento é fundamental. A rua Mouzinho deve ser a rua mais policiada da cidade do Porto. Porquê? Porque os polícias vêm para a esquadra, para a Nona. Sobem e descem. Portanto, têm que ir entregar o serviço.

Há aí três ou quatro casas com montras partidas. Porquê? Estão à espera que o polícia passe para depois roubarem. Aquilo que antigamente se fazia, dar a volta ao centro da cidade para ver as montras e tal, hoje já ninguém faz. Já há uma certa dificuldade em uma pessoa sair para ir ver as montras para comprar. E, se vissem as montras, no dia seguinte eram capazes de vir comprar. Nem saem à noite.

O centro da cidade do Porto à noite, a partir das 19h30 é uma aldeia. Não tem ninguém. Agora, segundo me disseram, parece-me que ali em Cândido dos Reis e Conde de Vizela e não sei que mais, há uma certa agitação e movimentação. Ainda bem. Mas não é só aquele pólo. Têm que fazer mais pólos destes para precisamente atrair a população ao centro da cidade.

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