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Aperto de mão ao lavrador e ao industrial

Antigamente, havia muita mais ligação com os clientes. Primeiro, porque era a ligação do próprio cliente que vinha à loja, quer ele fosse lavrador, quer fossem pessoas ligadas a grande fortunas e indústrias que prestaram relevantes serviços a este país e que eram líderes. Que chegaram a ser inclusivamente líderes da Península Ibérica e alguns até europeus como foram as fábricas de Riba d’Ave, da família Ferreira. A Dona Maria Amélia Ferreira era uma das clientes da casa que se podia encontrar com um jardineiro, com um lavrador, que se podia encontrar com outra pessoa qualquer. Portanto, tinha logo à partida uma vantagem, não havia classes, era interclassista, todas as pessoas eram clientes e eram tratadas da mesma forma. Tanto se apertava a mão a uma pessoa como se apertava a outra. Era igual. As pessoas gostam de ser tratadas assim, em primeiro lugar.

Em segundo lugar, as pessoas por causa das dificuldades que tinham em se deslocarem, deslocavam-se por camioneta ou por caminho-de-ferro. Desciam esta rua, traziam os seus apontamentos, o que é que queriam de sementes, o que é que queriam de mercearias, o que é que queriam de outros produtos que se vendiam aqui, e muitas vezes, deixavam aqui a encomenda e diziam:

- “Ó Alípio, ó Guilherme, ó Joaquim, ó Manuel Martins, tenho de dar aqui umas voltas. Daqui a uma hora, hora e meia estou aqui para levar a encomenda.”

Isto era um trabalho que essas pessoas faziam duas, três vezes por mês.

Porque já na altura não se devia fazer grandes stocks. As pessoas queriam levar as encomendas e mais um bocadinho para ficar lá, para resolver um problema momentâneo. E tinham os seus dias para vir à cidade, como se dizia na altura, para ir ao Porto. Recordo-me, de trabalhar aqui, com o meu tio que era um balcão espectacular, do melhor que havia na cidade do Porto. Atendia nesta loja mais de 200 pessoas por dia. Porque as pessoas vinham à Rua de São João para buscar o bacalhau, vinham à Rua Mouzinho da Silveira buscar o arroz e o açúcar e depois juntavam aquilo. Se fosse qualquer coisa que eles pudessem transportar, muito bem. Eu fui muitas vezes guiar um carro para levar uma senhora, uma dona Joaquininha qualquer, ao comboio porque as coisas que ela tinha não as podia transportar e era só subir esta rua. Isso nunca me estragou o meu estatuto, muito pelo contrário, deu-me um conhecimento muito grande da vida.

“O Porto era uma capital”

O Porto, na altura, era uma capital. Hoje, o Porto não é nada. É uma cidade em que dormem, possivelmente, menos pessoas que em Matosinhos e que na Maia. A razão da construção das auto-estradas, o acesso dos diferentes locais do país a outros faz com que tenha sido investido muito dinheiro em automóveis e em vendedores para se vender muito mais localmente. E quando as pessoas vinham aqui para fazer as suas encomendas, para revender, também traziam algumas pessoas de família que pensavam que comprar aqui era melhor que comprar na loja do irmão ou do primo, que também acabavam por ser clientes de retalho. Essas pessoas hoje ou se abastecem localmente ou então vão aos hipermercados que há por toda a parte.

Em Arcozelo, que no meu tempo de miúdo era uma terrinha, era uma povoação, nem uma aldeia era, tem quatro hipermercados, no espaço de 200 metros. Eu espero que, efectivamente, quem deu autorização para isso saiba o que está a fazer, porque possivelmente vamos encontrar um dia em que não é o pequeno e médio comércio só que vai à vida. Esse também vai, porque a concorrência começa a ser muito forte. E vê-se nas televisões, cartões, preços mais baixos, “agora vendemos o azeite a este preço ou vendemos a outro”, “nós não precisamos de dar cartões, porque os nossos preços são os mais baixos”… Tudo isso é uma publicidade enganosa, porque o que eles publicitam não é o que eles querem que se compre. Eles querem é que se lá vá. E quando entram, entram na água e saem no vinho. Entram na letra “A” e saem na letra “B” e trazem muito mais do que aquilo que efectivamente precisavam. Criaram um endividamento porque se calhar pagaram com o cartão de plástico, de crédito. E depois, no fim do mês, nós havemos de ver como é que há-de ser. Isto a juntar às facilidades de concessão de crédito que os bancos davam a qualquer indivíduo que abrisse uma conta por mais pequena que seja.

A primeira coisa que tinha era direito ao cartão e ele com aquele cartão já pensava que de facto já era dono do mundo, porque consideravam que aquilo era como ir ao casino e jogar nas slot machines. Efectivamente, fazia com que eles consumissem mais do que aquilo que podiam. Portanto, penso que foram essas as razões que fizeram com que o pequeno e médio comércio das cidades fosse decrescendo conjuntamente, com o abandono da habitação, onde existem grandes responsabilidades das entidades municipais. Isto fez com que as pessoas procurassem um local onde pudessem aparcar o seu automóvel sem pagar nada, onde pudessem trazer o seu cestinho sem ser às costas e onde rapidamente se pudessem abastecer a preços que eles dizem ser mais baratos mas que, às vezes, não são.

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