Pessoas

Mini Biografia

Luís Manuel da Mota Faria de Castro nasceu em Celorico de Basto a 1 de Agosto de 1968.

Eu acabei o 12º ano de Contabilidade e Gestão e vim trabalhar para a loja. Claro que só mais tarde, é que comecei a vir trabalhar mais a fundo. Ao longo do tempo, já comecei a dar a minha opinião e hoje arrisco. Já digo o que eu não quero ou o que quero. Mas sempre com a opinião dos colaboradores. Não tenho o dom de saber de tudo”.

Dos tempos de criança recorda que “a rua foi em tempos Rua do Ouro, porque existiam muitas ourivesarias” e diz, com orgulho, que actualmente o que a rua tem de melhor “é o Mota & Faria!

“Desde miúdo já lidava com isto”

Eu acabei o 12.º ano de Contabilidade e Gestão e fiquei por ali. Vim trabalhar para a loja. Aliás, eu sempre participei um bocado disto. As minhas férias, quer sejam férias de Natal ou da Páscoa ou as férias grandes, foram sempre a vir para aqui. De pequeno estorvava mais do que o que ajudava, mas fazia parte disto. Ajudava a abrir mercadoria e aquilo era uma coisa que eu gostava. Volta e meia lá vinha eu. Eu fui participando sempre disto e tinha o conhecimento de causa dos artigos, dos produtos.

Claro que só mais tarde, para aí com 20 anos, acho eu, foi quando comecei a vir trabalhar mais a fundo. Vim trabalhar para aqui e primeiramente a enturmar-me com isto tudo. Eu não passei a gerir nada, porque eu não sabia nada. Quer-se dizer, aquilo que eu sabia era o básico: saber arrumar as coisas, mas nada de mais.

Comecei a ajudar, a ajudar a participar nas encomendas, a fazer encomendas, a comprar isto e aquilo. Fui ao longo dos anos seguintes aprimorando o tipo de artigos, o tipo de compras inclusivamente. No início sem arriscar seja o que for e, ao longo do tempo, já comecei a dar a minha opinião e hoje arrisco. Já digo o que eu não quero ou o que quero. Mas sempre com a opinião dos colaboradores. Eu não tenho o dom de saber de tudo. Porque, aliás, temos milhentos artigos dentro das portas. Hoje a minha participação já conta com 20 anos no mínimo.

“A minha função cá”

Ter um armazém e mais seis lojas, é aquele tipo de trabalho em que a gente às 9h já está à espera de um telefonema:

- “Olhe, porque aconteceu isto e porque aconteceu aquilo…”

E é preciso resolver no momento exacto. Transferir pessoas de um lado para o outro, planear férias, essas coisas todas. É a minha função. Portanto, 90%, 95% do meu tempo estou aqui na loja. Não deveria ser. Deveria andar mais pelos outros estabelecimentos.

“Informatizar este armazém foi uma dor de cabeça”

Nós sempre tivemos desde início, além do staff de atender os clientes, de marcar a mercadoria, de tudo, um escritório. Na altura do meu Pai, tínhamos duas pessoas: um falecido tio meu e outra menina. Havia também um técnico de contas que vinha assinar a escrita e vinha tratar de mais algumas coisas que era preciso. Essas pessoas é que tratavam da parte gorda, desde facturação, dos funcionários lançamento das coisas para os clientes, de pagar aos fornecedores e isto e aquilo.

Facturávamos tudo à mão. Depois as facturas iam para o escritório. Eram feitas as puxadas e ao fim do mês, lançadas num semi-computador – aquilo parecia uma máquina de escrever – para o conta-corrente do cliente.

Era um trabalho arcaico. Hoje a gente ri-se disso, mas era assim mesmo. Não havia outra forma de o fazer.

Lembra-me que informatizar este armazém foi uma dor de cabeça muito grande. Uma?! Muitas dores de cabeça. Mas quando se informatizou, no primeiro sistema que tivemos, as coisas evoluíram. Evoluíram e era tudo muito mais fácil. Depois, mais tarde, passados quatro ou cinco anos, houve uma evolução e essa sim, ainda hoje vigora e passou a ser muito importante. O outro sistema era mais fechado e este mais aberto. Hoje se a gente carregar numa tecla dá para fazer muito mais coisas e é mais fácil por ser expansível. Hoje temos na mão todos os dados dos clientes a um clicar. Quer dizer, é muito mais fácil.

Mas foi sempre ponto de ordem ter um escritório a tratar de tudo, um escritório dentro da empresa. Hoje temos três funcionários sempre a gerir tudo o que é a parte de clientes, fornecedores e contabilidade.

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Rua

“A rua tem vindo a perder”

Desde pequenino, eu vinha aqui pontualmente, nas férias. Depois, nas férias grandes, vinha quase todos os dias. Era muito movimento, mesmo muito movimento. A casa onde trabalhava muita gente era na Louçaria do Norte e também numa casa ao lado, que pertencia aos mesmos donos, que era Nogueira e Pereira. Era de géneros alimentícios, açúcar, arroz… Só nessas duas casas era tanta gente a trabalhar, era tanta gente a descarregar, era tanta gente a carregar que realmente havia movimento. Mas toda a rua tinha estabelecimentos. Não havia, que me recorde, estabelecimentos fechados.

A rua foi em tempos Rua do Ouro, porque existiam muitas ourivesarias. Depois não lhe sei contar como é que isso foi, mas houve um período qualquer onde passou a pôr muitas floreiras nas janelas e a rua continha muitas flores. Houve uma altura que mudaram o nome.

Entretanto fecharam algumas lojas. Depois houve aquela fase dos indianos. Vieram, montaram-se, estabeleceram-se aqui e ainda andam alguns. Mais recentemente foram os chineses. Vieram três, ou quatro ou cinco para aqui, estiveram “x” tempo, foram embora e pronto, sempre a fechar estabelecimentos.

Nos últimos anos, foram fechando e foram acabando aqueles armazéns muito antigos. Uns que faleceram, outros que faliram, outros que passaram, muita coisa. Quer-se dizer, não é uma rua que dissesse assim:

- “Pronto, aquele indivíduo vai fechar e eu vou para lá.”

Não se vê muito isso e a rua tem vindo a perder, a perder…

O melhor da rua

O que é que esta rua tem de melhor? É o Mota&Faria! Para vir à Rua das Flores, só se for pelo nosso atendimento. Quer-se dizer, em termos de preços somos muito mais competitivos que o centro comercial. Em termos de atendimento, um grande leque de clientes, 50% dos clientes que entram aqui, a gente conhece, trata-os pelo nome.

Aqui há uma aproximação muito maior que o empregado/cliente/patrão. É uma das coisas que marcamos que é vantajoso.

“As diferenças são bastante grandes para o negativo”

Aquilo que eu conheço da rua são 30 anos, 20 deles a viver mais intensamente. Mesmo há 20 anos atrás a rua tinha muito mais peso do que hoje.

Mas há 35 tinha muito mais. São daquelas coisas que se vão perdendo ao longo dos anos, lentamente. Há alturas que mais e claro que nós vamos recordando isso. Mas para quem não está presente e vem à rua, sei lá, de cinco em cinco anos, ou dez em dez anos, nota que as diferenças são bastante grandes para o negativo em termo comerciais e em termos de degradação.

Áudios

Lugar

“A única coisa que vejo de positivo é a Porto Vivo”

Nem esta rua nem propriamente a Rua Mouzinho da Silveira foram objecto duma intervenção a sério. A Câmara Municipal, em tempos, teve ideias de reformular uma rua e outra. Eu não me recordo mas, salvo erro em 1990 e tal, houve um PROCOM para esta zona, um PROCOM específico. Um plano de apoio às empresas. A Câmara diz que se candidatou para a parte urbana. Passou e não fez nada. Depois houve a Porto 2001 e havia o Eixo Mouzinho/Flores para a intervenção. O Porto 2001 passou e a Casa da Música absorveu tanto dinheiro que não fizeram nada. Depois houve o Programa Polis para o Eixo Mouzinho, Flores e Ribeira. Esse projecto ficou só confinado à parte da Ribeira. Quer-se dizer, ou se tem medo de mexer nisto ou não se sabe o que é que se há-de fazer. Chegou-se a falar em fechar a rua para rua pedonal. Trazer o eléctrico para aqui. Depois era para Mouzinho. Depois já nem para Mouzinho, não há um consenso.

A única coisa que vejo ainda de positivo neste últimos dois anos é a Porto Vivo e disse isso mesmo à arquitecta que me meio fazer algumas perguntas:

- Olhe, você não perca muito tempo que isto não vai nada para a frente.

Mas pelos vistos eles pegaram nas coisas com outras ideias e também com outra abertura. Porquê? Porque, durante muitos e muitos anos, a Câmara, as leis e tudo não deixavam fazer nada. Um projecto que se metesse à Câmara, as cláusulas eram tantas que a gente desistia logo. Mais vale deixar estar e realmente a cidade estagnou.

Actualmente, a Porto Vivo nasce com umas ideias e tem poderes de resolução muito mais rápidos. Está muito mais próximo das pessoas que querem fazer e realmente está-se a ver algumas transformações, nomeadamente aqui no início de Mouzinho. Cinco ou seis prédios seguidos para habitação. Aqui o Palácio das Cardosas, este quarteirão todo vai ficar praticamente reformulado com muito mais habitação. Mas é preciso é que os prédios sejam arranjados. Fala-se aqui à frente num hotel. Qualquer coisa que venha é sempre bem-vinda para a rua, para haver outro tipo de negócio. Não interessa o que seja e que seja igual ao meu. Quantos mais melhor! Porque se estiverem todos os estabelecimentos abertos, as pessoas hoje vão a um, amanhã vão a outro, depois vão a outro e vêm comprar ouro, no outro vão comprar as balanças àquele senhor, depois vêm comprar plantas e depois vêm comprar malhas ou vêm comprar rendinhas, mas vêm. O problema é quando começa a ficar cada vez menos estabelecimentos:

- “Ai, eu não vou lá. Oh, por causa dele, não vale a pena.”

O estacionamento é um dos problemas. É as mentalidades das pessoas que continuam a querer forçosamente andar de carro. As pessoas hoje estão muito comodistas. De preferência o carro havia de entrar dentro do estabelecimento, que é para ela só sair e dizer:

- “Olhe, é aquilo que eu quero.”

Daí os centros comerciais marcarem pontos, porque têm áreas grandes e têm estacionamento. Mas nós cá, no Porto, é impossível. Temos que lidar com aquilo que temos.

Cidade em mudança

A ideia que se teme é que de futuro estes prédios passem a ter habitação a nível de primeiro, segundo e terceiro e o rés-do-chão e as caves estabelecimentos.

O Porto, como perdeu muitos habitantes, também os quer cativar. Agora aquilo que é preciso realmente fazer é que as coisas andem muito mais rápido em termos de projectos, em termos de reformulação de edifícios e tudo. Certo é que as habitações que irão surgir não vão ser habitações baratas. O que vai acontecer é que quem as vai comprar já são pessoas com determinado nível. Essas pessoas, se vierem viver realmente para a cidade, para o centro da cidade, vão ter outro tipo de carências: um bom café, uma boa loja.

O metro veio ajudar muito em termos de fluxo de tráfego. As pessoas já não andam tanto de carro. Mas a questão futura do metro é assim: quando se fala do posicionamento dum terminal rodoviário em Gaia, se isso for mesmo avante, muita gente que vem da parte sul vai ficar travada ali em Gaia. Ali pára.

Aliás, Santa Catarina tem o movimento que tem não é à toa. Muito do movimento é porque as pessoas são obrigadas a passar lá. Porque saem de manhã dos autocarros e vão por ali fora para os seus empregos, umas para cima, outras para baixo, outras mais para o lado, mas passam lá. Ao fim da tarde, fazem o mesmo trajecto. Hoje passa, amanhã passa, de manhã e de tarde, acabam por comprar. Depois é uma rua fechada ao trânsito, que cativa também.

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