Pessoas

Mini Biografia

Manuel Felismino Dias Ferreira nasceu no Porto a 6 de Abril de 1963. Filho de António de Almeida Ferreira e de Maria Alzira Pinto Dias Ferreira, “também tripeira.

Andou na escola Jesus Maria José e mais tarde na Escola Comercial Filipe de Vilhena, “depois fiz a admissão à faculdade. Entrei em Engenharia Civil. Achava que tinha jeito, mas enfim, não deu.” Posteriormente tentou o curso de Gestão mas “fiquei no terceiro ano”.

A Farmácia Parente é um negócio de família que já vem do tempo do avô “era uma drogaria com produtos farmacêuticos. Depois passou também a perfumaria, vendia champôs, pentes para carecas também.

Dono de um sentido de humor excepcional, tem como os seus clientes muito carinho e atenção “temos aqui clientes que vêm cá todos os dias, cumprimentar-nos, sentam um bocadinho, medir as tensões e pronto conversam”.

“Ele estabeleceu-se em 1940”

Isto é de família. Já vem do tempo do meu avô. O meu avô tinha o estabelecimento de drogaria na Rua dos Caldeireiros, estabelecimento que ainda existe. Era uma drogaria. Depois passou também para perfumaria, vendia champôs, pentes para carecas também. Uma drogaria tradicional na Rua dos Caldeireiros com produtos também farmacêuticos.

Começou a vender especialidades farmacêuticas, a fornecer farmácias. O negócio era totalmente diferente do que é hoje, não tem nada a ver. Não havia tantas caixinhas, não havia tantas marcas de medicamentos. Não se vendia tanta coisa. Era tudo mais limitado. Começou a vender para aqui e depois chegou ao entendimento do negócio e ficou com a farmácia. O meu avô adquiriu isto nos anos 60, salvo erro, mas aqui sempre funcionou como farmácia.

Chegou a uma altura em que tinha que vir para trabalhar e vim para aqui. Já estou aqui vai fazer 25 anos. Fiz o meu percurso aqui.

Antigamente, para trabalhar numa farmácia, era preciso o nono ano e depois havia o registo de prática. O registo de prática consiste que nós não podemos atender ao público logo quando chegamos. Temos que começar a conferir as encomendas. Antigamente pesava-se o borato e o bicarbonato, fazer os pacotinhos, fazer manipulados, fazer pesos. Antigamente nós dávamos mais uso às balanças e tudo. Também aprendíamos a fazer supositórios. Eventualmente qualquer um de nós pode trabalhar numa indústria farmacêutica ou pode fazer xaropes. Pode-se fazer muita coisa. Agora perdeu-se o hábito completamente.

Depois vamos começar a ler as receitas, a corrigir as receitas, a tirar as etiquetas, só esse percurso… Arrumar os lotes, ver os prazos de validade. Mediante isto, só ao terceiro ano é que podemos ir ao balcão começar a atender, sempre com supervisão do farmacêutico. Isto logo a partir do segundo ano.

Depois desse ano de supervisão do farmacêutico, então já podemos começar a atender sozinhos, coisa que hoje em dia, por exemplo, quando vêm os farmacêuticos da faculdade, entram logo directamente a atender o público. Claro que, é como tudo, a experiência é que nos vai dar o “savoir-faire” para atender o cliente. Não podemos atender clientes diferentes da mesma maneira. Neste ponto é engraçado. As relações humanas são muito engraçadas e gosto daquilo que faço.

Nós temos tido algumas farmacêuticas jovens que têm vindo trabalhar connosco em estágios e tudo e temos muitas vezes de lhes fazer certas observações. Por exemplo, nós estamos numa parte da cidade em que há muita gente que não sabe ler e elas não têm essa sensibilidade. Nós temos que lhe dar um toque assim por baixo com o pé.

- “Não sabe ler.”

Ou qualquer coisa assim do género. E ficam muito atrapalhadas. Depois nós tentamos ajudar. É o entendimento. Nós, como já estamos aqui, já estamos habituados ao cliente e já sabemos a cor dos medicamentos, a cor das pastilhas. Se for uma pessoa mais jovem que começa, não tem a noção se a caixa antigamente era laranja e depois passou para verde. É isso realmente que nós fazemos e tentamos ajudar uns aos outros.

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Rua

“Isto foi aberto no século XVI”

Esta rua é mais antiga que a Rua Mouzinho da Silveira. Isto foi aberto no século XVI, acho eu. Ela, de princípio, parece que não era mesmo Rua das Flores, tinha outro nome.

Havia a casa dos botões, havia as retrosarias lá por causa das linhas. Havia os alfaiates. As confecções, as costureiras. A rua tinha muitos armazéns. Tinha a Louçaria Transmontana, a Louçaria do Norte, a Ourivesaria Aliança, tinha o Carvalho e Gastalho que era uma fábrica de papel, sobrescritos e envelopes, papel de carta e tudo, que fechou há um ano já.

Tinha muita gente. Trabalhava muito bem na altura quando tínhamos as colónias. Camiões para aqui, camiões para acolá. Aqui havia muitas fábricas. Também acharam por bem que as fábricas tinham que sair do centro das cidades. Começaram a retirá-las para a periferia e pronto. Havia aqui uma fábrica de confecções que agora está, salvo o erro, para Grijó. Temos aqui também a situação da Papelaria Reis que fizeram a renovação do edifício e acho que perderam uma oportunidade, que era o único edifício que tinha cave e subcave, para fazer garagens aqui na rua e não aproveitaram, mas pronto. São essas coisas que quem está aqui, quem mora aqui, quem vive aqui e quem trabalha aqui há muitos anos pensa, ou pelo menos temos essa opinião, que se podia fazer mais coisas. Se houvesse mais vontade, podiam-se fazer mais coisas.

“As pessoas agora já vão aos centros comerciais passear”

Era muito diferente a rua. Depois há a evolução das coisas. As pessoas de idade vão falecendo.

Outra rua que está muito degradada é a Rua do Almada. A Rua do Almada, à beira dos Clérigos, aquilo tem uma quantidade de prédios infinita. Antigamente podia-se estacionar, agora não se pode.

Tem o supermercado, tem escolas tem tudo. Uma pessoa tem a escola primária, tem a secundária, tem aqui nas Virtudes. Temos o correio, temos aqui monumentos, temos a igreja, temos o hospital de Santo António, temos a Ribeira para ir tomar um copo à noite. Agora esta parte nova da cidade, o café Piolho ali à beira da Universidade.

A vida aqui pode ser feita na mesma em muito menor espaço de tempo. É tudo relativamente perto, umas coisas das outras. Também se precisar de um táxi para vir para aqui, também se vai. Agora com o metro há facilidade. É tudo e mais alguma coisa. Agora é haver vontade de quem manda de pôr isto tudo a funcionar e aparecer as coisas.

Aqui na zona compro tudo. Não preciso de ir a mais lado nenhum. Desde a sapataria, desde as meias, roupa. Tudo o que for roupa ourivesaria, farmácia, claro, drogarias, tudo. Não tem problema. Atoalhados, confecções e muitas vezes com muito melhor preço, muito mais acessível, mais bem atendido. As pessoas são mais prestáveis do que propriamente nessas grandes superfícies, que muitas vezes nota-se que a pessoa que está lá não sabe o que está a vender. É a ideia que eu tenho.

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Lugar

“As entidades oficiais são bastante responsáveis pela desertificação das cidades”

Nasci e vivi no Porto. Há uma dúzia de anos que estou a viver em Gondomar. Nasci, estudei, comecei a trabalhar, casei, tudo cá no Porto, na cidade do Porto. E gosto. Sempre trabalhei aqui nesta zona. O meu avô tinha um estabelecimento comercial aqui na Rua dos Caldeireiros, portanto, eu venho para aqui desde muito pequenino, 3, 4 anos. Conheço muita gente há muitos anos. Vi aquilo que isto era e o que é. A transformação que teve.

Eu acho que as entidades oficiais também são bastante responsáveis pela desertificação das cidades. Toda a gente fala na família e em dar condições de vida e estão sempre a retirar. Uma grande dificuldade que existe aqui na cidade do Porto, principalmente na Baixa, é o estacionamento. Em vez de terem estacionamento à superfície, têm-no retirado. Normalmente os clientes queixam-se que não têm sítios onde estacionar o carro.

As entidades oficiais dizem:
- “Ai, têm parques.”

Mas o parque é a pagar e os parques são caros. Inclusivamente os estrangeiros que temos aqui muita vez ao fim de semana, mesmo os espanhóis e tudo, dizem que o parque é caro. Tem que existir alternativa. É o caso de Carlos Alberto. Tinha muito estacionamento à superfície e agora não tem.

Se uma pessoa for fazer compras, vier ao comércio tradicional que é muito melhor atendido, com muito mais atenção, com mais carinho, tem um sítio para estacionar o carro. Se não tiver lugar à superfície, então, sim senhor, põe o carro no parque.

O próprio eléctrico, o horário de funcionamento também está mal, acaba às 19h. E as pessoas que trabalham? Deviam ter mais respeito por elas, deviam dar-lhes outra facilidade de transporte. Nesse aspecto, há pessoas que provavelmente viverão cá na cidade e utilizavam o eléctrico. O último a sair às 19h também não dá para as pessoas que trabalham. São essas coisas todas que deviam ser mais bem estudadas, mais bem conversadas.

As pessoas têm que ver qualquer coisa a aparecer. Há aí dois ou três prédios recuperados aqui em cima, já naquela parte pedonal e pouco mais. Parecia que ia mexer, mas depois já não mexeu com aquela vontade que se desejava. No entanto, vem aqui muita gente perguntar se há andares para alugar.

Ainda este fim-de-semana vieram perguntar se tinha andares para alugar. Vê-se muita gente jovem, muita gente jovem a procurar, o que é claro, depois começam:
- “Ah, e depois para parar o carro.”

Parar o carro aqui. E garagem? Garagem ou tem na estação de São Bento o estacionamento ou então no Mercado Ferreira Borges. É a única hipótese.

Lugares trocados

Também não concordo com aquilo que foi feito na Praça da Liberdade. A Praça da Liberdade parece o
prolongamento da Avenida dos Aliados. Eu no outro dia tive muita dificuldade para explicar a uns italianos onde é que era a Praça. Ele dizia que era a Avenida e eu dizia que não. Fui mostrar-lhe a placa.

Fui dizer assim:
- Não, isto aqui é a Praça da Liberdade.

Ele dizia que era tudo recto.
- Pois é tudo recto, mas olha que é que eu faço? Está assim feito.

Uma coisa muito engraçada: a Praça General Humberto Delgado tem a estátua Almeida Garrett. A praça de Almeida Garrett, que é em frente à estação de São Bento, não tem nada. O General Humberto Delgado está na Praça Carlos Alberto. Isto é complicado de falar já a portugueses e quanto mais a estrangeiros.

Acho que nós não temos os jardins aproveitados. O jardim da Cordoaria, a requalificação acho que não ficou muito bem. Os nossos jardins são pontos de encontro, mas podiam ser muito mais. Podia-se aproveitar o jardim para arranjar um recinto desportivo. Nem que as pessoas de idade fossem para lá na mesma e vissem os mais novos a jogar à bola. Ou fazer campos de voleibol, andebol, basquete, futebol, pronto tentar por ali, porque na Cordoaria vê-se ali meia dúzia de pessoas. Acho que não tem jeito

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