Com 125 anos Mostrar/Ocultar

Com 125 anos, com experiência e conhecimentos, temos técnicas e materiais que conferem aos nossos artigos a qualidade de outros tempos.

Pessoas

Mini Biografia

João Manuel Melo da Costa nasceu em Vila Nova de Gaia, em Mafamude, em 1953, no dia 8 de Dezembro.

Aos 5 anos deixa Lamego e vem com os pais para o Porto. É ali que estuda até ir para a tropa em 1974.
O seu primeiro emprego foi como programador informático, mas acaba por vir para a Casa Coração de Jesus, para ajudar o avô. Gostou tanto que acabou por inserir-se na “área de restauro“.

Tem na qualidade dos produtos e do atendimento a sua maior mais-valia “sou capaz de perder uma hora com o cliente para saber qual era o santo que ele queria“.

“Passei uns maus bocados”

Estudei na escola de Gaia. Fiz o 11.º ano, o Curso Comercial, depois o Curso Complementar com Carreira de Administração e fui para a tropa em 1974. Fiz a tropa, três anos. Depois regressei. Andei uns anos perdido porque não havia empregos, até que em 1980 arranjei um emprego numa área que eu tinha também feito os cursos suplementares de Informática. Trabalhei em Gaia durante dez anos nessa empresa. A partir daí comecei-me a cansar. Aquilo já era insuportável, era muito cansativo. Entrei na programação e a partir daí entrei em paranóias.

Desisti daquilo e apareceu-me o meu avô. Eu aceitei e vim em 1990. Vim ver como era.

Passei uns maus bocados, porque não estava inserido no negócio, estava um bocado fora e depois pegar em qualquer coisa que está moribunda é sempre um bocado difícil. Dar-lhe os sedativos e o oxigénio suficiente foi muito difícil, porque eu não tinha também muito capital, como é lógico. Era um trabalhador por conta de outrem, ganhava o meu e gastava o meu.

Tinha uma vida relativamente razoável, mas pronto, é como eu digo. Não tenho assim boas memórias do princípio.

Depois melhorou imenso e eu interessei-me. Estudei e inseri-me numa área de restauro, que não era habitual cá na loja. Com esses restauros que nós fizemos, ampliámos muito o negócio da empresa. Eu tinha bons cooperantes, porque a firma nunca meteu pessoal. Eu arranjava sempre temporariamente pessoas para vir trabalhar comigo. Umas para me ensinar, outras para eu ensinar e esse intercâmbio para mim foi muito gratificante e muito bom. Em todo o país eu tenho obras feitas. Não grandes obras, mas obras feitas.

O meu avô morreu em 1995. Só estive cinco anos com ele. Aprendi muito com ele e com a minha prima, porque como eu disse eu não percebia nada de santos nem de santinhos. Conhecia três ou quatro e pouco mais. Claro, tinha tido uma educação católica, mas nunca fui muito vocacionado para ligar-me a isso. Portanto, tive que aprender muito, tive que fazer um curso intensivo, para não ficar mal perante os clientes que chegavam cá e:

- “Como é que se chama este santo?”

Sabia lá. Na altura não sabia. Não fazia ideia, portanto, tive que aprender muito. E depois ensinar também, porque depois quando veio para cá a Adelaide, ela teve que vir para cá logo a seguir, porque eu não aguentava estar aqui oito horas sozinho durante o dia. Tinha que arranjar alguém para poder sair ou para poder fazer outras coisas.

Áudios

Rua

O antes, o presente e o futuro

Mouzinho da Silveira sei quem era, agora por que é que lhe puseram o nome não faço ideia. Nunca me fizeram essa pergunta. Podia já ter sabido, mas não sei muito honestamente.

A rua nasceu como Mouzinho da Silveira. Não houve alteração no nome da rua. Quando a abriram foi como Rua Mouzinho da Silveira, em memória do grande explorador português. Sei algumas coisas de história sobre ele, mas não sei porque que escolheram, não faço ideia. Sei que foi em 1836 salvo erro, que foi aberta a rua. Não tenho a certeza absoluta, mas anda por aí.

A rua, como a Rua das Flores, foi uma das ruas esplendorosas em termos do princípio do século XIX. Eu tenho descrições feitas pelo meu avô e pelo meu tio e por mais pessoas da idade deles, que a rua era qualquer coisa de extraordinário, porque passavam milhares e milhares de pessoas, apesar de haver muito menos gente do que há agora.

A rua é interessantíssima. Primeiro porque está montada em cima de um rio. Eu já tive a possibilidade de ir ver. Tem um túnel por aqui abaixo, bastante grande em que se pode andar de pé, onde passa o rio, que é o Rio da Vila.

Depois tem o fontanário aqui que é espectacular apesar de ter sido transferido de outro lado. Não foi feito aqui. Foi transferido e adaptado aqui à rua com uma engenharia fantástica, porque ele está metido debaixo de outra rua. Tem uma rua por cima e tem um varandim virado para a Rua Mouzinho por cima dele.

Uma obra engraçada. Depois, é como eu digo, é a rua que liga ao Douro.

Agora estão a recuperar alguns, mas tem prédios aqui fantásticos belos, as pessoas que vieram para aí viver deviam ter uma qualidade de vida bastante boa. No princípio do século XIX quase todas as pessoas que tinham estabelecimentos comerciais viviam por cima. Porque era muito mais acessível.

As deslocações antigamente eram muito mais difíceis, portanto, seria muito mais prático ter a casa por cima do estabelecimento

“Tinha tantas lojas!”

Nessa altura, a Rua Mouzinho da Silveira era bem melhor que o que está agora. Tinha muito mais lojas, abertas pelo menos. Apesar de eu conhecer a Rua Mouzinho da Silveira muito antes disso, em que a rua era uma rua extremamente comercial. Tinha montes de casas por aqui abaixo. Não havia lugar nenhum que não houvesse uma casa aberta. Não havia buracos como agora. Agora é só buracos. Casas abandonadas e degradadas.

Tinha tantas lojas! As lojas de ferragem eram logo na entrada da rua do lado esquerdo. Do outro lado era pronto-a-vestir. Tinha muitas casas de roupas, de pronto-a-vestir e alfaiates. Tinha a casa das balanças que era de ferragens. Havia uma casa de guarda-chuvas, também me recorda muito bem. Depois havia um artesanato e lojas de tecidos e roupas. Era por aí abaixo. Havia um café mais abaixo que era o café Mouzinho. Também acabou há muitos anos.

Do outro lado, eu passava menos, mas também me lembra de algumas casas do outro lado. Essencialmente roupas. Mais abaixo um bocado havia outra casa idêntica a esta, que era casa, salvo erro, Menino Jesus de Praga. Era de um grande escultor português. Mercearias também tinha. Aqui na rua tinha duas ou três. Felizmente ainda há a sapataria Mouzinho aqui na rua.

“A desertificação do centro histórico”

A degradação dos prédios, essencialmente isso para mim, foi a morte da rua. Começa por aí. Depois claro a desertificação do centro histórico que não há dúvida nenhuma que nós morremos nesse aspecto. Começaram a envelhecer, começaram a morrer e depois a transferência daqui para bairros sociais, também foi outro caso. As habitações começavam a não ter habitabilidade razoável e as pessoas fugiam e passaram a ir para os bairros sociais. Passou a haver pouca gente. A Sé neste momento estabelecimentos quase não tem nenhuns, habitantes cada vez tem menos.

Eu tenho pena e sou honesto a dizer isto, mas é verdade. Aqui os interiores era gente por tudo que era sítio. Às vezes até custava andar nestas ruas, que eram a Rua Escura, a Rua da Bainharia. Não têm casas abertas agora. Aquilo era tudo cheio de casas comerciais. O centro, centro mesmo, morreu.

Não há dúvida nenhuma que não há muita gente aqui e à noite isto aqui é um deserto terrível. Um deserto mesmo. Não se vê ninguém. A situação principal é a degradação dos prédios, das casas, que nunca houve reparações, nunca fizeram nada na conservação desta área mesmo depois da tentativa de promoção da zona histórica a património mundial.

Um futuro desejado

Eu não queria que fosse como quando eu a conheci, porque acho que é utópico pedir isso. Acho que vai ser muito difícil. Estão a restaurar os prédios, mas as rendas que pedem são tão exorbitantes que não há ninguém que lhe possa pegar.

Essencialmente eu gostava de ver mais gente aqui a viver. Isto é um circuito um bocado complexo, mas é verdade. Se viver cá gente, também vem cá gente visitá-las.

Áudios

Comentar