José Ernesto Ferreira de Sousa nasceu no Porto, no dia 24 de Agosto de 1945.
Passou a infância em Paranhos “a jogar à bola no meio da rua e a jogar o pião.”
Aos 14 anos começou a trabalhar como comerciante, numa loja de óculos, “a fazer recados“, e depois passou para os têxteis. Actualmente é o proprietário da Casa Renato, um pronto-a-vestir para “juventude dos 40/50 anos, daquela que ainda vai vivendo por cá e vai passando“.
Guarda muitas recordações da Rua Mouzinho da Silveira altura em que o comércio fervilhava, embora refira que desses tempos resta apenas o “casario todo degradado e o comércio fechado“.
Comecei a trabalhar com o comércio de óculos, óculos de sol, óculos graduados, óculos de toda a espécie. Era óculos, ourivesaria e relojoaria também.
Mas era um espaço comercial pequeno. Foi assim que aconteceu a vinda para o comércio. Tinha 14 anos. Era aquele serviço das tarefas mais vulgares das lojas comerciais. Era fazer recados, naquela altura, para aprender a arte de fazer óculos. Pôr lentes, tirar lentes. Fazia todos os recados, que havia na loja, no espaço. Ganhava 300 escudos por mês. Era muito pouco dinheiro, uma ridicularia mas já ajudava. Porque eu fiquei sem pai aos 9 anos de idade, por isso acabaram todas as possibilidades de outra formação de vida.
Fiz a escola. Acabei a escola primária, consegui ir até metade do terceiro ano e toca a trabalhar. Naquele tempo, toda a gente queria estudar e continuar só que era preciso trabalhar. A fartura não era como agora, infelizmente. De maneira que vivia-se assim, não havia hipótese para mais.
Estive dois anos ou três anos no oculista. Depois fui para a indústria e para o comércio, outra vez. Fui trabalhar em confecções. Sempre têxteis. Fazia toda a espécie de roupa e eu estava ligado à parte comercial, à parte externa das vendas e da administração. A empresa era Ernesto e Sousa, Lda., era indústria com a confecção. Era uma empresa pequena. Mas ainda trabalhei muitos anos com ela. Fazíamos desde as saias de senhora até as blusas. Depois passou-se para as calças e por aí fora. Depois transformou-se em todo o tipo de roupa que havia. Tínhamos de acompanhar. Naquele tempo, ainda só se usava saia, depois começou-se a usar calças. Agora é diferente. Agora usa-se calças e não se usa saia. Eu vivi essa fase de transição da saia para as calças. Eu cortei muitas saias. Eu fiz muitas saias de senhora.
Mantendo o comércio, a trabalhar com a loja de pronto-a-vestir, liguei-me ao sector industrial de meias de homem. Fiz muitas meias, mandei fazer muitas meias e desenvolvi a comercialização pelo país todo.
Trabalhava-se bem. O resultado é que todas as nossas fábricas de meias de homem trabalhavam comigo e eu com eles a nível de produto marca, patente italiana, mas produto português, 100% genuíno. A marca era Pietro Rossi. De resto havia uma dúzia de fábricas a fazer meias de homens que hoje estão completamente extintas por causa de outros produtos que apareceram de outras origens com custos mais baixos e portanto, não foi possível dar continuidade a esse trabalho. Teve de se parar.
A partir de 2003 comecei a parar com toda essa parte de comercialização industrial e de comercialização pelo grosso, que era a parte do que acontecia. Depois resignei-me a isto. Fiz o meu percurso desde 1968/70. Sempre agarrado aos têxteis até a data de agora. Só que com várias alterações. Eu pessoalmente na loja estou há quatro anos. Desde 2005. Estava entregue a funcionários, de resto só a partir dessa data é que fiquei a passar mais tempo na loja.